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Morre J. Borges, maior nome da xilogravura nordestina

O xilogravurista produziu ilustrações para a literatura de cordel durante mais de sessenta anos e concebeu o legado da "xilogravura raiz"

Por Maria Fernanda Barros
Atualizado em 26 jul 2024, 16h32 - Publicado em 26 jul 2024, 16h24

Ao adentrar na instalação artística Ecos Armoriais da CASACOR São Paulo 2024, é possível contemplar, na cômoda do designer Eduardo Carvalho, a obra de J. Borges, um dos mais relevantes artistas populares brasileiros.

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Borges nasceu em 1935, no município de Bezerros, em Pernambuco. Até o anúncio de sua morte nesta sexta-feira (26), o pernambucano era o maior xilogravurista vivo do país. O ilustrador tinha 88 anos e morreu de causas naturais, segundo a família. 

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Xilogravurista raiz

As xilogravuras de J. Borges se destacam pela forte ligação com a literatura de cordel e as temáticas intrínsecas à cultura popular nordestina. Os traços rústicos e originais de sua obra, como descreve o curador Pedro Ariel Santana, fizeram o artista ser considerado um “xilogravurista raiz” pelo escritor Adriano Suassuna, que era amigo pessoal e parceiro de trabalho de Borges.

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Obras de Borges também ilustraram livros de Eduardo Galeano e José Saramago (Divulgação/CASACOR)

Borges não possuía nenhum tipo de formação erudita. Antes de se tornar o maior nome da xilogravura nordestina, o pernambucano já havia sido pedreiro, lavrador, carpinteiro, pintor de parede e vendedor. Apreciava o cordel desde a infância, mas só após os 20 anos de idade começou a produzir e vender os próprios folhetos, que posteriormente seriam ilustrados com as xilogravuras que desenhava.

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Cômoda desenhada por Eduardo Carvalho compostas pelas xilogravuras de J. Borges, na exposição Ecos Armoriais
Cômoda desenhada por Eduardo Carvalho composta pelas xilogravuras de J. Borges, na exposição Ecos Armoriais da CASACOR São Paulo 2024 (Marina Pires/CASACOR)

Por mais de sessenta anos, Borges se manteve fiel à xilogravura de cordel. “Essa temática de cordel, que é um pouco medieval e ao mesmo tempo surrealista esteve sempre presente nas obras dele”, afirma Pedro. O curador aponta que, enquanto outros artistas tentaram sofisticar o aspecto das xilogravuras, Borges não abriu mão das formas originais da arte que produzia.

A “xilogravura raiz” de J. Borges é um marco da cultura popular nordestina.  Se na década de 1970, as produções de J. Borges representavam visualmente o Movimento Armorial inaugurado por Ariano Suassuna, hoje suas obras são referência para a nova geração de artistas nordestinos como Derlon e Bozoba Camarte, que o agradecem nas redes sociais: “Obrigada, J. Borges”.

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"Forró Sertanejo", por J. Borges, na Galeria Pontes.
“Forró Sertanejo”, por J. Borges, na Galeria Pontes. (Galeria Pontes/CASACOR)

A arte de J. Borges está presente em uma exposição gratuita no Museu do Pontal, no Rio de Janeiro, em cartaz até 25 de março de 2025. Além disso, sua obra marca o Museu do Louvre, na França, e já alcançou o Museu de Arte de Nova York, nos Estados Unidos. Outros países como Alemanha, Suíça, Itália, Venezuela e Cuba também já receberam a obra do artista.

 

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